Muitos programas, veículos destinados ao público jovem continuam com uma visão preconceituosa da tribo emo. Como uma revista brasileira que descreveu a tribo como uma "nova categoria de gays" e uma "praga maldita" do século 21.
Mas por que nova categoria de gays? Para ser gay deve-se ter uma categoria? E quanto a homossexualidade no exército? E quanto a homossexualidade em uma roda de amigos? Essa é a visão de quem não vivencia a realidade. Todos procuram chegar perto do esteriótipo de pessoa comum, pessoa normal. Mas o quê define isso? Uma família com pai, mãe e filhos adoráveis? Uma família onde tudo é resolvido no amor e no carinho? Pra quê negar a diversidade de casos. Todos procuramos ser uma coisa que não somos, e o pior, uma coisa que não existe. Esse modelo fictício faz com que as pessoas olhem para quem quer ser quem é de uma maneira pejorativa, como se a pessoa fosse de outro mundo. Até algumas bandas que adotam o chamado "hardcore melódico" evitam ser rotuladas como emos, como se o termo embutisse também a declaração de que seus músicos são homossexuais.
Em um fórum de um famoso serviço brasileiro de perguntas, há questões como "existe emo que não seja gay?". Em meio a respostas recheadas de preconceito, é possível encontrar uma voz discordante: "Há emos que defendem a homossexualidade, mas nem por isso são gays. O nome do que você está fazendo agora é discriminação".
Por que não deixar que a tribo emo inclua a letra "x" nas palavras e adote grafias erradas? Somos seres humanos, sujeitos a mutabilidade e adaptação. Somos a espécie que tem maior capacidade de adaptação - no dicionário tem como significado: processo pelo qual um organismo se ajusta a condições do meio que o rodeia - mas para adaptar-se, você precisa de aceitação.
E quanto às aparências? Ridicularizá-los pela maquiagem da tribo (como lápis de olho e unha pintada de preto), o vestuário (como cinto de rebite, camiseta com estampa de um gatinho e tênis All Star riscado) e acessórios (como iPod, máquina fotográfica digital, colar de bolinha, chaveirinho e munhequeira)? Cada um é adaptado ao seu modo de viver, de pensar, de agir e de se sentir bem. Alguém ridiculariza evangélicos por usarem saia e cabelo comprido? Não há livros e livros de auto-ajuda que definem a aceitação do próximo como primeiro a auto- aceitação? Precisamos rever como somos vistos por nós mesmos.
É como se o mundo fosse uma receita, e nós os ingredientes. Cada ingrediente diferente adicionado acrescenta um sabor à receita. Cada ingrediente por si só não tem conteúdo. É como nós somos. Não há mais pureza. Mas há uma mistura que nos aproxima mais uns dos outros, e na qual fingimos que não existe. Assumindo assim a verdadeira e pior das doenças do século XXI, a etnocentria, ignorar que o outro é um pouco de mim e eu sou um pouco do outro...
Por Juliana Lazarini